A (minha) Cerimónia de Abertura dos Jogos Olímpicos
Agora que toda a gente viu a Cerimónia de Abertura dos Jogos Olímpicos, compreende o que eu tinha dito sobre a surpresa ser um factor relevante... Espero que tenha valido a pena :)
Para trás fica um dos momentos mais marcantes da minha Vida, duas entrevistas para a RTP (e uma para a SIC que acho que não foi emitida), dezenas de comentários e centenas de "likes" no Facebook dos espectadores mais relevantes para mim: a família e amigos.
Como é fácil de imaginar, um evento como este daria para vários posts... Mas para não exagerar, vou aguardar mais umas semanas e assim poderei usar algumas das várias fotos e vídeos que começam a emergir na Internet vindos de canais oficiais ou de outros performers que tal como eu fizeram as suas filmagens e fotos.
Como infelizmente não apareço em nenhum plano da emissão televisiva, vou falar sobre o evento da minha humilde perspectiva:
No dia da Cerimónia, apesar desta ainda não ter acontecido, já se sentia a nostalgia de se fazerem algumas coisas pela última vez... De entrar no Parque Olímpico, dos nossos passes serem controlados, de irmos buscar as refeições, de vestirmos os nossos fatos e de pormos a maquilhagem... Toda a gente tirava mais fotos do que era normal numa tentativa desesperada de guardar para sempre este momento tão especial para o qual nos tínhamos preparado e aguardávamos há vários meses.
O segmento em que participei era chamado de Pandemónio (ou Revolução Industrial) e como todos nós estávamos vestidos à trabalhadores industriais do Séc. XIX, a deslocação entre os bastidores e o Estádio Olímpico era bastante curiosa por parecer que 3.000 trabalhadores acabaram o seu turno numa fábrica do Séc. XIX.
No dia da cerimónia, a caminho do estádio, começaram a cair umas gotas de chuva... Apesar de estarmos preparados para lidar com ela depois de tantos ensaios à chuva, o receio de que a chuva comprometesse a grandiosidade do espectáculo levou-me a dizer em voz alta "Não! Não posso crer! Não pode chover hoje! Isto não é justo!"... Mas a justiça foi feita e aquelas foram as únicas gotas que caíram até ao dia seguinte :)
Depois de chegarmos ao estádio, cada grupo do Pandemónio ia para as suas posições... Os "Homens e Mulheres" iam para os corredores de acesso ao campo e o meu grupo, os "Guerreiros" (nome inspirado nos nossos treinos físicos intensivos), iam para dentro da montanha... Uma vez lá dentro colocávamo-nos em duas filas e começávamos a subir as duas escadas em caracol que nos levavam até uma plataforma lá em cima... Entre essa plataforma e o topo da montanha de onde iríamos sair assim que a árvore subisse, existia uma escada mais larga que permitia sairmos 3 de cada vez... Uma outra nota técnica é que cada um de nós tinha auscultadores ligados a um rádio FM sintonizado num canal destinado ao nosso grupo, de onde ouvíamos a música e recebíamos algumas deixas.
Após alguns minutos à espera dentro da montanha, começamos a ouvir a música que antecedia a nossa entrada... Ouvimos o discurso de entrada... Os tambores... A árvore começou a subir e ouvimos nos rádios: "Standby Strike... Strike, GO!"
Começo a andar em direcção à escada em caracol... Subo até à plataforma... Começo a subir a última escada onde as máquinas de fumo já estavam a funcionar... E quando o fumo se começa a dissipar eu tenho a única oportunidade de ver todo o estádio cheio e todos os outros performers a entrar em campo.
Eram apenas uns 3 segundos... Era todo o tempo que eu tinha para absorver a grandiosidade do evento, coisa que era facilitada pelo estádio ser oval e estar a sair de uma das suas extremidades, podendo num só relance, sem ter de olhar para a esquerda ou direita, ver tudo o que estava à minha frente... Felizmente no segundo ensaio geral com assistência, tal como na Cerimónia, consegui controlar-me, mas no primeiro ensaio geral com assistência fui esmagado com a brutalidade desta visão e nesses 3 segundos não consegui aguentar-me e soltei um "FUCK!".
Depois destes 3 segundos que roubava para mim, era altura de voltar a dedicar-me a 100% à Cerimónia... Desço a montanha procurando não chocar com nenhum dos meus colegas, não tropeçar ou escorregar... Da montanha desloco-me o mais rapidamente possível até ao meu lugar, mas em personagem: caminho nos tempos da música, olhar focado, tento não caminhar isolado e evito chocar-me com todos os outros grupos com os quais me cruzo.
No meu local ("área 10") começo a receber o material que os "homens e mulheres" do "condado G" traziam e dou apoio aos "guerreiros" da "área 9" (que era móvel) porque eles recebiam demasiadas coisas do "condado F" e tinham de as trazer até à "área 10"... Este material eram pedaços de relva sintética que tinham sido enrolados no campo... Na sua deslocação até à minha área tinha de evitar chocar com as várias paradas que circulavam o estádio e com a equipa dos tambores que entretanto descia da bancada até ao campo.
Apesar de ensaiarmos isto tudo, cada grupo ao andar mais rápido ou lento alterava o percurso de todos os grupos com que se cruzava, fazendo disto um "caos organizado" que os organizadores ajustavam conforme o resultado de cada ensaio.
Chegou o "poppy moment" em que todos paramos o que estamos a fazer... Eu pouso o que tenho em mãos, olho para o centro do campo, tiro lentamente o chapéu e faço de conta que assobio... Na verdade, eu deveria assobiar mas não consigo porque estou ofegante e os primeiros tempos da música servem para recuperar a minha respiração.
BAM! (primeiro tempo)... BAM! (quarto tempo)... BAM! (oitavo tempo) e faço a única coreografia que escapou das 5 que nos ensinaram... As outras foram canceladas porque perdíamos muito tempo com elas e precisávamos arrumar tudo antes de nos deslocarmos novamente para a montanha.
Depois de tudo arrumado, volto para perto da montanha com os outros "guerreiros"... Subimos todos para o centro do campo ficando de frente para a assistência e de costas para os anéis que pouco tempo depois começam a chover fogo de artifício... Através dos rádios FM, dizer-nos para nos virarmos para os anéis enquanto a música termina... E nesse momento, enquanto a multidão entra em euforia, dizem-nos:
"Lentamente voltem a virar-se para a assistência... Aplaudam a assistência... Apontem para os anéis... Façam uma vénia... Voltem a aplaudir a assistência e aplaudam-se também... Vocês estão de parabéns!... Isto foi de loucos!... Vocês foram incríveis!... Vocês fazem oficialmente parte da história desta cidade!"
Para trás fica um dos momentos mais marcantes da minha Vida, duas entrevistas para a RTP (e uma para a SIC que acho que não foi emitida), dezenas de comentários e centenas de "likes" no Facebook dos espectadores mais relevantes para mim: a família e amigos.
Como é fácil de imaginar, um evento como este daria para vários posts... Mas para não exagerar, vou aguardar mais umas semanas e assim poderei usar algumas das várias fotos e vídeos que começam a emergir na Internet vindos de canais oficiais ou de outros performers que tal como eu fizeram as suas filmagens e fotos.
Como infelizmente não apareço em nenhum plano da emissão televisiva, vou falar sobre o evento da minha humilde perspectiva:
No dia da Cerimónia, apesar desta ainda não ter acontecido, já se sentia a nostalgia de se fazerem algumas coisas pela última vez... De entrar no Parque Olímpico, dos nossos passes serem controlados, de irmos buscar as refeições, de vestirmos os nossos fatos e de pormos a maquilhagem... Toda a gente tirava mais fotos do que era normal numa tentativa desesperada de guardar para sempre este momento tão especial para o qual nos tínhamos preparado e aguardávamos há vários meses.
O segmento em que participei era chamado de Pandemónio (ou Revolução Industrial) e como todos nós estávamos vestidos à trabalhadores industriais do Séc. XIX, a deslocação entre os bastidores e o Estádio Olímpico era bastante curiosa por parecer que 3.000 trabalhadores acabaram o seu turno numa fábrica do Séc. XIX.
No dia da cerimónia, a caminho do estádio, começaram a cair umas gotas de chuva... Apesar de estarmos preparados para lidar com ela depois de tantos ensaios à chuva, o receio de que a chuva comprometesse a grandiosidade do espectáculo levou-me a dizer em voz alta "Não! Não posso crer! Não pode chover hoje! Isto não é justo!"... Mas a justiça foi feita e aquelas foram as únicas gotas que caíram até ao dia seguinte :)
Depois de chegarmos ao estádio, cada grupo do Pandemónio ia para as suas posições... Os "Homens e Mulheres" iam para os corredores de acesso ao campo e o meu grupo, os "Guerreiros" (nome inspirado nos nossos treinos físicos intensivos), iam para dentro da montanha... Uma vez lá dentro colocávamo-nos em duas filas e começávamos a subir as duas escadas em caracol que nos levavam até uma plataforma lá em cima... Entre essa plataforma e o topo da montanha de onde iríamos sair assim que a árvore subisse, existia uma escada mais larga que permitia sairmos 3 de cada vez... Uma outra nota técnica é que cada um de nós tinha auscultadores ligados a um rádio FM sintonizado num canal destinado ao nosso grupo, de onde ouvíamos a música e recebíamos algumas deixas.
Após alguns minutos à espera dentro da montanha, começamos a ouvir a música que antecedia a nossa entrada... Ouvimos o discurso de entrada... Os tambores... A árvore começou a subir e ouvimos nos rádios: "Standby Strike... Strike, GO!"
Começo a andar em direcção à escada em caracol... Subo até à plataforma... Começo a subir a última escada onde as máquinas de fumo já estavam a funcionar... E quando o fumo se começa a dissipar eu tenho a única oportunidade de ver todo o estádio cheio e todos os outros performers a entrar em campo.
Eram apenas uns 3 segundos... Era todo o tempo que eu tinha para absorver a grandiosidade do evento, coisa que era facilitada pelo estádio ser oval e estar a sair de uma das suas extremidades, podendo num só relance, sem ter de olhar para a esquerda ou direita, ver tudo o que estava à minha frente... Felizmente no segundo ensaio geral com assistência, tal como na Cerimónia, consegui controlar-me, mas no primeiro ensaio geral com assistência fui esmagado com a brutalidade desta visão e nesses 3 segundos não consegui aguentar-me e soltei um "FUCK!".
Depois destes 3 segundos que roubava para mim, era altura de voltar a dedicar-me a 100% à Cerimónia... Desço a montanha procurando não chocar com nenhum dos meus colegas, não tropeçar ou escorregar... Da montanha desloco-me o mais rapidamente possível até ao meu lugar, mas em personagem: caminho nos tempos da música, olhar focado, tento não caminhar isolado e evito chocar-me com todos os outros grupos com os quais me cruzo.
No meu local ("área 10") começo a receber o material que os "homens e mulheres" do "condado G" traziam e dou apoio aos "guerreiros" da "área 9" (que era móvel) porque eles recebiam demasiadas coisas do "condado F" e tinham de as trazer até à "área 10"... Este material eram pedaços de relva sintética que tinham sido enrolados no campo... Na sua deslocação até à minha área tinha de evitar chocar com as várias paradas que circulavam o estádio e com a equipa dos tambores que entretanto descia da bancada até ao campo.
Apesar de ensaiarmos isto tudo, cada grupo ao andar mais rápido ou lento alterava o percurso de todos os grupos com que se cruzava, fazendo disto um "caos organizado" que os organizadores ajustavam conforme o resultado de cada ensaio.
Chegou o "poppy moment" em que todos paramos o que estamos a fazer... Eu pouso o que tenho em mãos, olho para o centro do campo, tiro lentamente o chapéu e faço de conta que assobio... Na verdade, eu deveria assobiar mas não consigo porque estou ofegante e os primeiros tempos da música servem para recuperar a minha respiração.
BAM! (primeiro tempo)... BAM! (quarto tempo)... BAM! (oitavo tempo) e faço a única coreografia que escapou das 5 que nos ensinaram... As outras foram canceladas porque perdíamos muito tempo com elas e precisávamos arrumar tudo antes de nos deslocarmos novamente para a montanha.
Depois de tudo arrumado, volto para perto da montanha com os outros "guerreiros"... Subimos todos para o centro do campo ficando de frente para a assistência e de costas para os anéis que pouco tempo depois começam a chover fogo de artifício... Através dos rádios FM, dizer-nos para nos virarmos para os anéis enquanto a música termina... E nesse momento, enquanto a multidão entra em euforia, dizem-nos:
"Lentamente voltem a virar-se para a assistência... Aplaudam a assistência... Apontem para os anéis... Façam uma vénia... Voltem a aplaudir a assistência e aplaudam-se também... Vocês estão de parabéns!... Isto foi de loucos!... Vocês foram incríveis!... Vocês fazem oficialmente parte da história desta cidade!"
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