Eleições, Desilusões e Explicações

Como não tenho nacionalidade britânica ontem não pude votar para as eleições parlamentares, no entanto fiz questão de votar para as eleições locais (para o Islington Council).

Fiquei bastante desiludido com a facilidade com que poderia votar em nome de outra pessoa:
O recenceamento já por si foi duvidoso: uma senhora há uns meses bateu à porta e pediu o nome de todos os moradores para se recensearem... Assim o fizemos, apesar de serem apenas nomes escritos num papel e portanto poder ter inventado mais uns quantos, já que não me pediu nenhum comprovativo (pode ser que tivessem feito esta verificação à posteriori nos registos das imobiliárias)... Há umas semanas recebemos os nossos cartões de eleitores por correio (um para cada nome fornecido)... E ontem quando fui votar, pediram-me apenas esse cartão e deram-me logo o boletim de voto!... Mais nada!... Nem um único documento pessoal para confirmar que a pessoa que ali estava era a mesma que o nome que estava no cartão!... E para piorar só estava uma pessoa na mesa de foto, fazendo com que ela pudesse aldrabar ainda mais o processo de voto.

Infelizmente quando voltei a casa não consegui encontrar o cartão de eleitor de nenhum dos colegas de apartamento (uns tinham-no consigo e outros deitaram-no fora)... Senão ia lá novamente e tentava que me dessem um boletim de voto... Assim que o fizessem desmascarava o esquema mostrando que não era o portador daquele cartão... Foi pena!

Uma curiosidade:
O dia em que as pessoas votam por cá é à Quinta-feira!... E este nem sequer é um bank holiday... É um dia de trabalho como os outros... Por isso é que as urnas ficam abertas até às 22:00 (apesar deste ano ter havido alguma polémica porque algumas urnas fecharam a fila das pessoas que queriam votar às 22:00 e outras fecharam as urnas às 22:00, fazendo com que inúmeras pessoas que estavam na fila não pudessem votar)... Tentei encontrar a explicação para a escolha deste dia de voto e aqui está:
http://en.wikipedia.org/wiki/Election_Day_%28United_Kingdom%29

Quanto ao processo de eleição para o Parlamento, fica aqui a explicação do Público:
As eleições para a Câmara dos Comuns, câmara baixa do Parlamento, realizam-se por escrutínio uninominal maioritário, com uma só volta: o candidato que recolhe o maior número de votos torna-se deputado. Este sistema favorece os grandes partidos, em detrimento dos pequenos, uma vez que os eleitores procuram votar "útil".
- Os 650 círculos da Inglaterra, do País de Gales, da Escócia e da Irlanda do Norte são periodicamente redefinidos, de modo a manter uma média de 70.000 eleitores. Mas a revisão só se verifica de 12 em 12 anos. A que está em curso foi lançada no ano 2000, tendo estas eleições sido baseadas em listas que têm já uma década. Por isso, e devido aos movimentos populacionais, o tamanho dos círculos varia de 22.000 a 110.000 eleitores, o que favorece bastante os trabalhistas. Os seus feudos são as cidades, em círculos onde o número de inscritos é menos importante e onde se tornam necessários menos votos para eleger um deputado. Assim, o Labour pode perder em número de votos a nível nacional, ficando atrás dos tories, ou até mesmo dos Lib Dem, e mesmo assim conseguir mais lugares.
- Os eleitores escolhem o seu deputado mas não escolhem directamente o primeiro-ministro.
- O partido que obtém a maioria absoluta na Câmara dos Comuns (326 deputados num total de 650) é chamado pela rainha a formar Governo e o seu líder torna-se primeiro-ministro.
- Se nenhum partido tiver maioria absoluta, o Parlamento fica em suspenso. E neste caso o primeiro-ministro cessante tem vantagem. Na ausência de Constituição escrita, o habitual é que ele fique no lugar, mesmo que batido em votos e em lugares. Pode então tentar encontrar o apoio de outros partidos. No entanto, se se formar uma coligação contra ele, é forçado à demissão.
- No caso de ausência de solução política, o primeiro-ministro pode manter-se até ao discurso da rainha, que inaugura a nova legislatura em 25 de Maio. É a ocasião de apresentar o programa de Governo, a submeter a um voto de confiança.
Os liberais-democratas ou pequenos partidos serão então decisivos: poderão permitir a manutenção do Labour ou a tomada do poder pelos conservadores. A ausência de maioria absoluta não se verifica desde 1974, altura em que novas eleições foram marcadas ao fim de nove meses.
http://jornal.publico.pt/noticia/07-05-2010/como-funciona-o-complexo-sistema-eleitoral--britanico-19346639.htm

Comentários

snowgaze disse…
A propósito de a eleição ser à quinta, um colega meu inglês andou à procura da razão, e a que encontrou foi esta: quinta é o dia que fica mais longe de sexta, ou seja, do fim de semana, e por isso o dia em que as pessoas estão mais sóbrias. :)

(deve ser invenção, mas lá que tem piada, tem)

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